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Cientistas brasileiras: história e representantes

A ciência no Brasil tem sido tema de grande polêmica e alvo de descaso por parte do Governo há muitos anos, em especial nas duas últimas gestões do país. Ainda mais, quando o assunto é gênero, especificamente nas ciências exatas, nos referimos a um ambiente ainda predominantemente masculino e que teve o ingresso da mulher mais tardiamente. No post de hoje, traremos um pouco da história da ciência no Brasil, a história das mulheres na ciência brasileira e algumas das representantes da área de STEM.


História da ciência no Brasil

A ciência, como é conhecida hoje, é resultado de diversas mudanças, dadas conforme a tecnologia, a sociedade e o pensamento humano foram evoluindo. Além disso, o ritmo de desenvolvimento da ciência ao redor do mundo se deu em épocas diferentes, tendo a Idade Média como período em que o método científico foi realmente instituído e a Europa como palco. Por outro lado, é necessário considerar que as diferentes culturas relatavam as descobertas de acordo com características particulares e tinham métodos diversos de investigação.

Quando o assunto é Brasil, trata-se de uma ciência que só entrou em questão no século XIX, quando a família real portuguesa mudou para o Rio de Janeiro, fugindo do exército de Napoleão. Nesse período, não haviam universidades, museus, bibliotecas nem mídias impressas em solo brasileiro, diferentemente da Europa, que já desenvolvia importante papel acadêmico. A ausência de ampla educação em território nacional era interesse de Portugal, que temia a existência de uma classe de brasileiros com ambição de independência e, consequentemente, revoltados com a monarquia. Nessa época, alguns movimentos nesse sentido já aconteciam nos Estados Unidos e algumas colônias espanholas da América Latina, impulsionadas pelo nacionalismo, buscavam libertar-se de seu país colonizador.

Em outros períodos, algumas tentativas de estabelecer a ciência no Brasil foram feitas: a primeira delas se deu no século XVII, durante o domínio holandês sobre Recife, quando foi instalado o primeiro observatório astronômico do hemisfério Sul em Recife e o primeiro jardim zoobotânico da América.


História das mulheres na ciência no Brasil


Como na maioria dos países ocidentais, no Brasil, as mulheres entraram mais tarde no mundo da ciência, quando comparado aos homens. Foi apenas em 1879 que o governo imperial brasileiro permitiu a participação delas nas universidades, mas somente com a permissão do pai ou do marido, o que colaborou com a perpetuação da ideia de que as tarefas da mulher estavam ligadas à manutenção do lar e da família.

Quando fundadas as primeiras instituições de ensino no Brasil, a maioria dos professores e pesquisadores eram homens, principalmente estrangeiros, ou brasileiros formados no exterior. Nesse período, a única mulher na academia era Emilia Snethlage, pesquisadora graduada na Alemanha e que veio a território nacional para trabalhar como assistente de Zoologia no Museu Emílio Goeldi, em Belém(PA).

Analisando dados mais recentes, as mulheres representam 49% do total das bolsistas CNPq; por outro lado, em relação às iniciações científicas, 59% das bolsas são delas, mas apenas 35,5% dos trabalhos mais prestigiados e com maior financiamento são desenvolvidos por mulheres. Em síntese, passamos por um processo de falsa equalização de gênero na academia, levando em consideração que os trabalhos mais reconhecidos têm, em sua maioria, autores homens.

Nesse sentido, trazemos, resumidamente, a história de algumas das primeiras mulheres a terem participação no meio acadêmico brasileiro na área das ciências exatas e agronomia, confira!


Elza Furtado Gomide (1925-2013) - Primeira brasileira a obter doutorado em matemática numa instituição brasileira


Elza, nascida em São Paulo em 1925, foi a primeira doutora em matemática da Universidade de São Paulo(USP) e a segunda do Brasil. Desde criança, foi incentivada pelo pai, professor de matemática, a seguir na carreira acadêmica, e assim o fez. A primeira graduação dela foi em Física, apesar de, no meio do curso, ter descoberto a preferência por matemática. Na década de 1940, a física teve diversas descobertas importantes, sendo esse um dos fatores que impulsionaram Elza a ingressar no curso; outro motivador foi Sonja Ashauer (breve resumo sobre ela abaixo), primeira mulher brasileira a obter doutorado e uma brilhante pesquisadora.

Ao fim do curso, Elza foi convidada para ser assistente de um professor do Departamento de Matemática da USP e cursou um ano de matemática para, então, dar início à carreira de professora e pesquisadora, na qual desenvolveu trabalhos no ramo da Análise e publicou diversos artigos, dedicando-se à pesquisa até a década de 60. Nos anos seguintes, ela participou ativamente nas questões ligadas ao ensino, mesmo em meio ao regime militar. Elza, juntamente com Lole de Freitas Druck, apresentou uma proposta de estrutura curricular para o curso de licenciatura em matemática, que foi levado a Fórum, julgado e aprovado em 1994 e está praticamente inalterado até hoje.


Sonja Ashauer (1923-1948) - Primeira brasileira a concluir um doutorado em física


Filha de pais alemães, Sonja nasceu na cidade de São Paulo e, desde criança, demonstrou muita inteligência, incentivada principalmente por seu pai, que era engenheiro. Foi aluna da graduação em Física da Universidade de São Paulo(USP) e, desde essa época, já era reconhecida como destaque pelos professores. Após o fim do curso, foi contratada como assistente de Cadeira de Física Teórica e Física Matemática e, no período desse trabalho, desenvolveu estudos sobre mecânica quântica, especialmente em estatísticas de núcleos e partículas elementares em temperaturas extremamente altas. Ainda em 1944, publicou um artigo importante, no qual calcula o coeficiente de absorção de radiação para o efeito fotoelétrico com dois estudos de caso: fóton absorvido por um elétron ligado, ou não, a um núcleo.

No ano de 1945, Sonja recebeu uma bolsa para estudar na Universidade de Cambridge, onde foi orientada por Paul Dirac, prêmio Nobel, num viés da eletrodinâmica quântica. Um detalhe importante da história dela é que, no período em que estava na Inglaterra, os britânicos só concediam às mulheres o título de bacharel, e foi apenas no ano de 1948 que elas conquistaram a liberação para ter o título de doutorado.

Após conquistar seu título de PhD e ter publicado 3 trabalhos no Mathematical Proceedings of the Cambridge Philosophical Society e no Proceedings Royal Society, Sonja retornou ao Brasil e retomou o antigo cargo de assistente. Mais um de seus feitos notáveis, ela foi a primeira mulher brasileira a ser nomeada membro da Cambridge Philosophical Society. Infelizmente, Sonja morreu muito cedo, aos 25 anos, pouco tempo depois de ter retornado ao Brasil.


Johanna Döbereiner (1924-2000) - Uma das únicas brasileiras indicadas ao prêmio Nobel


Nascida em 1924 na República Tcheca, Johanna se mudou para o Brasil depois do fim da Segunda Guerra Mundial, época em que a população que falava alemão, caso dela e da família, foi perseguida no país natal. Antes de chegar em solo brasileiro, ela teve uma difícil trajetória ainda na Europa e, em 1947, iniciou uma graduação em Agronomia, na Universidade de Munique. Foi no ano de 1950 que Johanna chegou ao Brasil, com uma recomendação para o Serviço Nacional de Pesquisa Agropecuária, onde trabalhou por alguns anos, e, em 1956, naturalizou-se brasileira.

Sobre sua trajetória no Brasil, Johanna começou atuando no Laboratório de Microbiologia de Solos do antigo DNPEA, do Ministério de Agricultura; anos depois, era pesquisadora assistente do CNPq e, posteriormente, tornou-se pesquisadora conferencista. Nesse período, ela desenvolveu importante papel nas pesquisas relativas aos aspectos limitantes da fixação biológica do nitrogênio em leguminosas tropicais e, ainda mais, seus estudos influenciaram diretamente no programa brasileiro de melhoramento da soja. O processo desenvolvido por ela nesse ramo destoava do, destaque até então, método estadunidense, pois permitia que a fixação do nitrogênio pelas plantas fosse feito pela bactéria rhizobium e, portanto, a soja gerava seu próprio adubo.

A carreira de Johanna é muito vasta, conta com a publicação de mais de 500 títulos e, como professora e pesquisadora, foi orientadora de diversos cientistas destaque da atualidade, muitos deles seguindo seu legado na pesquisa. Nos estudos em relação à soja, o trabalho dela foi responsável por reduzir em quase 2 bilhões de dólares anuais os gastos com as plantações, tornando o Brasil o produtor de soja com menor custo, em escala mundial. Além disso, ela foi indicada ao prêmio Nobel de Química em 1999, uma das poucas brasileiras a receber essa honraria.


A história da ciência brasileira e as outras áreas de pesquisa têm a participação de muitas mulheres incríveis e responsáveis por trabalhos muito significativos. Fomos conquistando nosso espaço e ainda temos um longo caminho para traçar. Fiquem ligados nos próximos posts da nossa página para conferir trabalhos de iniciação científica de estudantes de matemática, dando o primeiro passo em uma possível carreira na pesquisa brasileira. Não percam


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