Mulheres em Exatas e a Pandemia
A pandemia do COVID-19 afetou a todos, numa escala global, e principalmente no Brasil, onde não há sequer uma previsão do reestabelecimento da "normalidade", torna-se necessário abordar os efeitos que o vírus e a pandemia possuem na vida das mulheres brasileiras. Simone de Beauvoir (1949) dizia "Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados", então cabe a nós o questionamento: a pandemia e a quarentena afetam homens e mulheres igualmente?
Alerta de spoiler: NÃO! Precisamos ter a consciência de que, assim como em toda crise, algumas parcelas e minorias da sociedade serão abaladas mais intensamente do que outras, portanto lembraremos aqui o recorte pelo qual abordaremos esse tema: as entrevistadas são mulheres, cientistas e pesquisadoras da Universidade de São Paulo, majoritariamente brancas, majoritariamente de classe média.
Um relatório da ONU de 2020, chamado "Mulheres no centro da luta contra a crise COVID-19" aponta alguns números esclarecedores sobre o papel das mulheres na pandemia. Cerca de 70% dos trabalhadores de saúde no mundo todo são mulheres, no Brasil, são 85% de mulheres trabalhando no corpo de enfermagem, 45,6% dos médicos e 85% dos cuidadores de idosos são mulheres, fato que as expõe a um maior risco de infecção pelo vírus, e isso é só na área da saúde.
No que tange às mulheres cientistas, uma das principais diferenças advindas com a quarentena foi o home-office! Sabemos que no Brasil, a divisão não-igualitária do trabalho doméstico é uma realidade, bem como a sobrecarga que as mulheres possuem (desde antes da pandemia) com as chamadas jornadas duplas, por vezes jornadas triplas de trabalho. E na pandemia? Essas desigualdades se acentuam?
É o que indicam diversos estudos realizados sobre o assunto. Cerca de 50% das mulheres trabalhadoras afirmaram que passaram a cuidar de alguém na pandemia, mais de 40% admitem um aumento na carga horária de trabalho e, de acordo com dados coletados pela Parents in Science, quando questionadas se conseguiam trabalhar remotamente, apenas 8% das professoras responderam afirmativamente. Além disso, diversos editores e editoras de revistas científicas vêm se manifestando com preocupação diante da diminuição de envio de artigos científicos de mulheres em detrimento ao aumento daqueles enviados por autores homens.
É imprescindível refletirmos sobre as raízes das diferentes perspectivas entre homens e mulheres, que, numa pesquisa realizada pela UNICAMP, discorreram livremente sobre sua experiência do home-office. As respostas de trabalhadoras femininas se destacou pelos termos "casa", "filho", "cuidado" e "criança", enquanto as palavras que mais apareceram nas falas dos trabalhadores do sexo masculino foram "tempo", "contrato", "pandemia" e "casa" (aqui associado à questão de gestão de tempo do trabalho, e não ao cuidado com filhos ou trabalho doméstico), mostrando que, quando reunidos no ambiente doméstico, cabe quase que exclusivamente às mulheres conciliar vida profissional e vida familiar.
Nas próximas postagens, abordaremos ainda mais a questão de como a pandemia e a quarentena afetam o trabalho das mulheres brasileiras. Infelizmente, a pandemia vem escancarando diversas desigualdade já existentes e acentuando-as, diversas vezes, tornando indispensável a reflexão sobre tais questões.
No vídeo de hoje, a professora Regilene Delazari vai contar um pouquinho pra gente sobre como está lidando com isso tudo, não deixe de assistir!
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Referências:
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