Oportunidades no Mercado de Trabalho: Mulheres em Exatas
Na próxima leva de entrevistas com docentes da USP - São Carlos, o projeto ELAS traz uma discussão importante sobre gênero e mercado de trabalho.
Perguntamos às entrevistadas se elas acreditam que as oportunidades são as mesmas no mercado de trabalho para homens e mulheres, então elas nos relatam um pouco sobre suas vivências e analisam se percebem ou não uma diferença de gênero nesse sentido, levando em conta, é claro, o meio em que estão inseridas e familiarizadas: o ambiente acadêmico.
Sabemos que, historicamente, as mulheres foram impedidas de frequentar diversos ambientes e de ocupar alguns espaços, dentre eles, o meio científico e acadêmico. Somente no final do século XIX, por volta de 1879, as mulheres foram permitidas de ingressar num curso superior. Apesar dessa imersão tardia das mulheres nas ciências, hoje mais de 50% dos ingressantes nos cursos de graduação são do sexo feminino.
De acordo com um estudo da UFABC realizado em Maio de 2020, utilizando dados de 2017 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) as mulheres representam 56,95% das matrículas em cursos de graduação. Nesse mesmo relatório, nos programas de pós-graduação, as mulheres eram 54,84% no mestrado strictu sensu e 53,54% no doutorado strictu sensu.
No entanto, quando analisamos a porcentagem de mulheres que alcançam ou chegam mais perto do “topo” da carreira, percebemos que esses números diminuem drasticamente, principalmente em áreas que culturalmente são reconhecidas como predominantemente masculinas, como as ciências exatas, o que nos mostra que algumas medidas ainda precisam ser tomadas com o intuito de atingirmos uma comunidade acadêmica mais equitativa.
Esse estudo aponta duas causas para essas diferenças no decorrer da trajetória acadêmica, dois pontos que precisam ser trabalhados: a segregação vertical e a segregação horizontal.
A segregação vertical se dá justamente nessa diminuição no número de mulheres conforme chegamos em cargos mais altos. A ideia de que as profissionais da ciência se encontram concentradas em posições mais baixas da carreira, o que pode ser explicado por diversos motivos, dentre eles, o tempo dedicado para o trabalho doméstico, que normalmente acaba sendo responsabilidade da mulher (mais de 20% das mulheres se dedicam ao trabalho doméstico não remunerado, enquanto somente 1,5% dos homens tem essa dedicação), a questão da maternidade, que diversas vezes, por faltas de políticas que contribuam e incentivem o retorno dessas mães de família, acabam se afastando e não progredindo durante muito tempo no ambiente de trabalho, além de problemáticas como violência e assédio que as mulheres sofrem no ambiente de trabalho.
Outro fator analisado pelo estudo da UFABC foi a distribuição de bolsas de estudo por gênero, nas quais as mulheres mal ultrapassam 35% dos beneficiados, enquanto cerca de 65% das bolsas são distribuídas aos homens. Essas diferenças só aumentam no decorrer da trajetória acadêmica, sendo observadas pouquíssimas mulheres em cargos de prestígio nesse contexto.
A segregação horizontal, que também pode ser lida como uma territorialidade do conhecimento, tem relação com o fato de que, dentro da academia, as mulheres estão concentradas em determinadas áreas do conhecimento, sendo ainda minoria em cursos de exatas, por exemplo, e maioria em profissões que são reconhecidas como de "cuidadora", como pedagogia e enfermagem. Alguns dos motivos do porque isso acontece até os dias de hoje é um dos objetivos desse projeto, e é o que vamos tentar descobrir com vocês ao longo das próximas semanas.
Então não deixe de acompanhar nossos vídeos, toda semana tem novidade!
Se quiser saber mais sobre o estudo da UFABC citado cima, encontrará disponível no blog diversas tabelas contendo dados e informações sobre o tema.
Referência:
BOECHAT, Gabriela. Alcançamos a igualdade entre homens e mulheres na carreira acadêmica? Blog UFABC Divulga Ciência, 2020. Disponível em: < https://proec.ufabc.edu.br/ufabcdivulgaciencia/2020/05/25/alcancamos-a-igualdade-entre-homens-e-mulheres-na-carreira-academica-v-3-n-5-p-11-2020/>. Acesso em: 20/03/2021
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